Um belo dia você acorda e, de repente, sem nenhum motivo aparente, seu filho começa a se comportar de maneira estranha.
Fica seletivo no que comer, começa a impor o que quer (e, principalmente, o que não quer), se recusa a usar algumas roupas. Chora, grita, sapateia, bate as pernas no chão.
Você não quer acreditar, mas tá ali, bem evidente:
São elas, as tão temidas birras.
Seus amigos dizem que é só uma fase. Que vai passar.
Mas cada novo episódio, especialmente quando em público, é um stress tão grande que você não sabe como vai vencer os terrible two sem perder a paciência e a sanidade mental…
E eu confesso:
Antes de ser mãe, eu julgava.
Julgava aquela criança chata no restaurante que não parava de espernear. Julgava aquela mãe que não fazia nada a respeito. Julgava aquela família que “não sabia criar” o filho.
Sim, eu era essa pessoa.
Fast forward para os dias atuais: aqui estou eu passando, vez ou outra, pela mesma situação e completamente empática com toda mãe e criança desconhecidas…
O que mudou?
Duas filhas no currículo, claro. Mas, principalmente, mudou o meu conhecimento sobre o assunto.
Então, aí vão 5 coisas que considero fundamentais ter sempre em mente na hora que o circo se armar:
#1. Seu filho NÃO TEM a capacidade de se autorregular sozinho ainda. Portanto, a pessoa com cérebro maduro da relação é VOCÊ
Não é achismo, não é conversa para boi dormir, é um fato comprovado:
O córtex pré-frontal, parte do cérebro responsável pela habilidade de regulação emocional, está imaturo durante toda a infância, sobretudo nos primeiros anos de vida. Na verdade, ele só atinge sua plena maturidade por volta dos 25 anos de idade.
Sabe o que isso quer dizer?
Que, se depois de adultos a gente ainda passa trabalho, até os 4 anos o tico e o teco ainda nem conversam… De fato, nessa idade, os neurônios da região ainda não fazem todas as conexões necessárias.
Por isso, muito cuidado com os pequenos ainda não são capazes de tomar decisões equilibradas, muito menos de prever as consequências das suas ações.
#2. Seu filho não está sendo mal criado. Ele está pedindo ajuda.
Se seu filho não tem habilidades de regulação emocional, isso quer dizer que ele depende das suas. Ou seja, por trás de todo comportamento desafiador está, na verdade, uma criança que precisa de ajuda. Da SUA ajuda.
Imagine ser tomado por emoções difíceis como frustração, raiva ou medo, sem, literalmente, ter estrutura cerebral para absorver tudo isso?
Agora, imagine procurar os seus pais para desabafar e encontrar repreensão no lugar de apoio? Será que você teria vontade de desabafar com eles de novo?
#3. Essa criança precisa ser ACOLHIDA, não PUNIDA
Quando você pune um comportamento desafiador de uma criança, o que você está punindo, na verdade, é uma tentativa de comunicação dela. Daí, o que ela aprende?
“Quando eu comunico um desconforto, sou repreendida pelos meus pais”
Tenho certeza de que é não é essa mensagem que você quer passar para o seu filho, né?
Claro que não!
Por isso, o ideal é que você acolha e valide o sentimento dele:
“Você está chateado, né meu amor? Eu te entendo…”
Quando começar a birra, tente traduzir em palavras os sentimentos que ele sozinho não consegue descrever.
Na dúvida do que falar, simplesmente ouça. E esteja ali, emocionalmente presente. Às vezes um abraço e um colo valem mais do que qualquer palavra.
#4. A birra acontece com todas as crianças do mundo, sem exceção
Não, o seu filho não é problemático. Não, você não está passando. vergonha, nem está fazendo algo terrivelmente errado.
Birras são normais e esperadas.
Elas nada mais são do que uma maneira de expressar o que as crianças ainda têm a habilidade de recorrer à lógica e às palavras para fazer sozinhas.
A birra geralmente acontece ali entre os 2 e 4 anos de idade, mas pode aparecer até mesmo antes, por volta dos 10 meses. Na verdade, esse tipo de comportamento tem mais relação com o desenvolvimento do bebê do que com a idade.
Ou seja: se o seu pequeno anda numa fase “birrenta”, está tudo completamente dentro do esperado. E faz parte do amadurecimento dele.
#5. A pessoa que ama o seu filho é você. O resto do povo quer silêncio, e tá cagando para o que ele tá sentindo
Por último, e não menos importante, ligue o foda-se!
Alguns vão lançar olhares julgadores – geralmente quem não convive com crianças e não sabe o quanto isso é normal. Outros vão observar a cena com pena, pois, provavelmente, já enfrentaram algo parecido na vida.
Seja como for, aceite que a sociedade não sabe lidar com comportamentos difíceis. E ignore o resto do povo para concentrar toda sua atenção onde, de fato, interessa:
Nesse serzinho em desenvolvimento que está aí na sua frente.
Pense comigo:
Imagine que você está no meio do shopping ou supermercado e a sua criança cai no chão e começa a passar mal – a vomitar, por exemplo. Se ela está passando mal, você não vai pensar duas vezes, você vai se debruçar no chão, ver o que está acontecendo com ela, você não vai reparar se alguém está te observando, não é mesmo?
Pois as birras também são um passar mal, só que emocional.
Quando a criança passa mal fisicamente, você não tem dúvidas sobre acolhê-la.
Então, por que quando a criança passa mal emocionalmente você não sabe lidar?
Pois é…
Faz sentido tudo isso?
Me conte aqui qual é a parte mais desafiadora das birras para você!