Se aproximam os dois anos e, com eles, a autonomia dos nossos filhos para dizer o que querem. E, principalmente, o que não querem.
Agora, eles deixam bem claro que não querem comer a sopa. Não querem tomar banho. Não querem escovar os dentes. Não querem colocar o casaco…
Socorro!
Sabe aqueles momentos em que parece que o mundo inteiro conspirou para testar sua paciência?
Assim são as birras.
De repente, como que num passe de mágica, aquela criança que parecia tão quieta e tranquila se transforma. Começa a gritar, chorar, se jogar no chão e provocar os mais diferentes sentimentos em você.
Puxadíssimo!
Se você é pai, mãe, tio, tia, ou simplesmente já cruzou o caminho de um mini-humano em plena explosão, com certeza sabe do que estou falando…
Lidar com comportamentos desafiadores dos pequenos não é tarefa fácil. A gente acha que, vencido o primeiro ano, nada pode ser pior. Até que, pimba:
A realidade nos apresenta uma fase cheinha de novas batalhas e de muito desgaste emocional.
E é exatamente aí que surgem as perguntas:
Qual a melhor solução para essas situações? Ignorar? Brigar? Esperar a criança cansar? Prometer uma “recompensa” para que ela se controle?
São dúvidas que todos os pais têm ou já tiveram. Por isso, aí vai um passo a passo completo para enfrentar a birra.
Não é receita de bolo. Não é 100% eficaz em todos os casos. Mas é o que tem me ajudado a lidar com os comportamentos desafiadores das minhas filhas quando eles aparecem.
#1. ENTENDA
Exatamente.
Para encarar o problema, primeiro conheça o problema. E descubra que ele, de problemático, tem só o rótulo…
Saber sobre o assunto, além de te dar a consciência de que é uma fase e que passa, vai te ajudar a ter mais paciência e tolerância na hora que o circo pegar fogo.
Então, vamos lá:
Birras são não apenas normais, como totalmente esperadas.
Elas nada mais são do que uma maneira de expressar o que os pequenos ainda não têm a habilidade de recorrer à lógica e às palavras para fazer sozinhos.
Quando o seu filho tem fome (e não é consciente disso), ele faz birra. Quando seu filho tá cansado (e não sabe porque tudo fica mais difícil), ele faz birra. Quando seu filho não tem a vontade atendida (e não entende o porquê), ele faz birra.
Ou seja, não se trata de uma simples pirraça diante de uma frustração. E, sim, da manifestação de uma emoção com a qual a criança ainda não sabe lidar.
A birra geralmente acontece ali entre os 2 e 4 anos de idade, mas pode aparecer até mesmo antes, por volta dos 10 meses. Na verdade, esse tipo de comportamento tem mais relação com o desenvolvimento do bebê do que com a idade.
Normalmente, é a partir dos dois anos que a criança começa a ter mais autonomia e passa pela chamada adolescência da infância.
Ou seja: se o seu pequeno anda numa fase “birrenta”, está tudo dentro do script. E faz parte do amadurecimento dele.
Muito se fala em terrible two, mas sejamos justos: não tem nada de terrível em ver seu filho crescendo!
Por isso, é importante já tirar da frente toda e qualquer conotação negativa:
Encare a birra como uma crise emocional. Porque essa é a sua melhor definição mesmo.
#2. PREVINA
Agora que você já sabe os gatilhos mais comuns que disparam a birra, por que não evitá-los?
Se seu filho fica chato quando está cansado, com sono ou com fome, faça o possível para que ele não enfrente essas situações.
Como?
Com rotina.
Sempre que possível, não pule sonecas. Não atrase refeições. Não prolongue atividades que exijam mais energia do que ele pode gastar…
Além de dificultar cenários que vão te dar dor de cabeça, a rotina ainda traz uma outra vantagem:
A previsibilidade.
Afinal, quando se tem uma programação bem estabelecida, a resistência às tarefas e atividades do dia-a-dia tendem a diminuir.
A criança já sabe que, antes de dormir, tem que escovar os dentes, por exemplo. Aquilo acontece todo dia. E, cedo ou tarde, acaba sendo incorporado como um hábito.
#3. ANUNCIE
Ainda em linha com a dica anterior, toda coisa chata previamente anunciada é menos pesada do que quando chega de supetão.
Por isso, os pais devem avisar a criança do que vai acontecer para que ela possa se “preparar”, especialmente em situações que antecedem algo que ela não gosta ou não quer fazer.
Por exemplo:
“Filho, agora eu vou te dar mais 5 minutos e nós vamos desligar a televisão, tá bom?”
“Filho, daqui 5 minutos a gente vai embora, tá?”
Use e abuse da previsibilidade. A criança tende a ficar muito mais confortável e segura quando ela já sabe o que vem a seguir.
#4. COMBINE
Combinados são ótimos para ambos os lados:
A criança entende, de antemão, o que vai acontecer e o que é esperado dela. E você ganha a carta na manga de poder sempre recorrer ao acordo feito: “lembra do que nós combinamos?”
Por exemplo:
“Agora, nós vamos na casa do fulaninho. Fulaninho tem muitos brinquedos que são deles, não seus. Você vai brincar com o que ele te emprestar e não vai trazer nada dele para casa, ok?”
Corre o risco do seu filho chegar na casa do fulaninho e espernear porque quer o brinquedo que tá na mão dele?
Corre.
Mas, combinando previamente, as chances disso acontecer diminuem consideravelmente.
Aqui pode entrar também uma consequência pré-estabelecida:
“Se você brigar pelo brinquedo do amigo, nós vamos voltar mais cedo para a casa, ok?”
Importante ser firme e cumprir a sua parte no combinado. Se você disse que voltaria mais cedo para casa no caso de mau comportamento, volte mais cedo. Caso contrário, sua palavra (e toda a estratégia) perderá a credibilidade.
Outra técnica boa para acordos é a chamada first and then.
O que isso quer dizer?
No lugar de usar frases condicionais para fazer combinados, você usará a estrutura “primeiro” e “depois”.
Perceba a diferença:
“Se você não escovar os dentes, a gente não vai na pracinha”
“Primeiro, você escova os dentes. Depois, a gente vai na pracinha”
Na primeira frase, a criança está no controle. Se ela se negar a escovar os dentes, ninguém vai na pracinha. Na segunda, você assume as rédeas.
Faz sentido?
“Primeiro, você come. Depois, a gente brinca”
“Primeiro, você coloca o casaco. Depois, a gente sai”
E assim por diante.
#5. DÊ OPÇÕES
Outra coisa legal (e importante) de botar em prática é deixar que a criança participe das decisões daquilo que ela não gosta/ não quer fazer.
Ao invés de fazer perguntas de sim e não (que a gente já sabe qual vai ser a resposta), dê opções:
“Você quer tomar banho com o brinquedo azul ou o amarelo?”
“Você quer usar o casaco azul ou o vermelho?”
Fazendo isso, quem está ditando as regras é você. Mas, ainda assim, fica aberta a possibilidade para que ele escolha alguma coisa.
#6. CONECTE
Mesmo prevenindo e combinando, não adiantou? Deu ruim e o seu filho está num momento para lá de birrento?
Faz parte.
Na hora em que o turbilhão de emoções explode, o melhor que você tem a fazer é se conectar com a criança. Afinal de contas, sem isso, todas as tentativas posteriores serão fracassadas.
E como você se conecta?
Com certeza não é gritando mais alto do que ela…
A maneira mais rápida de se conectar com o seu filho é validando o que ele tá sentindo.
Sei que nem sempre é fácil, mas respire fundo e ative a sua melhor versão buda.
Se abaixe na altura dele e fale com a voz serena. Agora é o momento de ser empático e mostrar que você entende a sua frustração (e que ela é legítima).
Uma boa estratégia é falar de uma experiência pessoal sua.
Por exemplo:
“Eu sei que é bem chato ter que parar de fazer algo divertido. Sabe, mamãe também ficava triste quando a vovó dizia que era hora de guardar os brinquedos e dormir”.
E que fique claro:
A ideia aqui é validar o sentimento, e nunca o comportamento.
Não é ceder e deixar os filhos fazerem o que bem quiserem. Mas, sim, ajudá-los a lidar com as emoções traduzindo em palavras aquilo que eles, sozinhos, não conseguem descrever.
Por exemplo:
“Eu to vendo que você tá frustrado porque queria muito esse brinquedo. Eu entendo. É chato mesmo querer e não poder levar. Mas, hoje, não vamos comprar nada. Quem sabe no Dia das Crianças?”
#7. ACOLHA
Você sabia que nós, por sermos mamíferos, nos sentimos muito mais acalmados e regulados quando estamos próximos de outra pessoa que nos acolhe?
Pois é…
Por isso, abrace, pegue no colo, afague e deixe claro que você está ali para ajudar.
“Respire, respire!”
“Quer um colo?”
“Quando você estiver mais calmo, a gente conversa”
Muitas vezes, numa crise de choro ou de raiva, a criança não vai querer ser tocada ou abraçada. E, quando isso acontecer, devemos respeitar essa vontade e simplesmente estar ali junto da criança. Em estado de presença.
Na dúvida do que falar, simplesmente ouça. E esteja ali, emocionalmente presente. Às vezes um abraço e um colo valem mais do que qualquer palavra.
#8. CONVERSE
Sabemos que o diálogo é a base de qualquer relacionamento. E com o seu filho não seria diferente.
Depois, quando a poeira baixar e todos estiverem tranquilos, ajude-o a entender o porquê daquele comportamento.
Mas nada de longos sermões e puxões de orelha, viu? A ideia é que essa seja uma conversa leve e que a criança não se sinta repreendida.
Até porque, pense o seguinte:
Se você fosse desabafar com alguém e essa pessoa te desse uma lição de moral, você iria querer desabar com ela de novo?
Provavelmente não, né?
E importante:
Não tente conversar na hora da raiva porque, simplesmente, não vai funcionar. Você vai ser mais estúpido do que deveria e o seu filho menos receptivo do que você gostaria…
Algo interessante é ter como hábito sempre recapitular o dia. Falar sobre o que fizeram, sobre o que esteve bom e o que poderia melhorar.
“Lembra aquela hora no parque que você ficou chorando porque tinha outra criança no balanço que você queria brincar? Sei que você ficou triste de ter que esperar, só que cada um tem a sua vez.”
Aproveite para usar do reforço positivo também:
“Mas daí a gente foi no supermercado e você se comportou muito bem. Até ajudou a mamãe com as compras. Foi muito legal…”
Devo ignorar a criança no momento da birra?
Alguns especialistas indicam que sim: que você, simplesmente, ignore a explosão do seu filho para não dar muita audiência para aquilo.
Eu não sigo por essa linha…
Acho que, se a criança está passando por uma crise emocional, o que ela menos precisa é ser ignorada. Pelo contrário: precisa ser acolhida.
Eu penso assim…
Imagine procurar os seus pais para desabafar e encontrar indiferença no lugar de apoio? Será que você teria vontade de desabafar com eles de novo?
Pois é…
A única coisa que a criança aprende quando é ignorada é que ela não poderá contar conosco quando a situação ficar difícil…
Claro que sempre pode acontecer do seu filho querer ficar sozinho. Nesse caso, ele claramente precisa de um espaço e é válido. Se estiverem em casa (e se for seguro, obviamente), convém dar um tempo. Você pode sair de cena e dizer:
“Estarei aqui quando você quiser conversar”
Faz sentido?
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