Antes de mais nada, vamos deixar claro o seguinte:
Crianças choram!
Choram de dor. Choram de alegria. Choram de frustração. Choram, às vezes, sem nem saber porque estão chorando. E tá tudo dentro do esperado.
Precisamos democratizar (e celebrar o choro).
Afinal, os pequenos choram para se comunicar. E essa é, às vezes, a única maneira que têm para avisar que precisam que você faça algo. É normal, é saudável é o mesmo comportamento que permitiu que a espécie humana evoluísse ao logo dos anos.
Então, que bom que o seu filho chora por tudo! Estranho (e preocupante) seria se ele não chorasse…
E não se engane:
Mesmo a criança que já sabe falar ainda usa muito o choro para se comunicar:
Pode ser que ela esteja com fome. Pode ser que ela esteja cansada. Pode ser que ela esteja com dor. Pode ser que esteja com frio/calor. E mesmo conseguindo falar, ainda não consegue identificar isso e colocar em palavras.
Claro que, em algumas situações, o choro é o sinal de que, de fato, existe algo errado. É necessário sempre investigar (e descartar) a possibilidade de qualquer doença.
Mas, na maioria das vezes, o que a criança chorona tem, na verdade, é uma dificuldade de reconhecer e expressar os sentimentos.
Nesses casos, cabe a você ajudá-la a nomear as suas emoções.
Por exemplo:
“Filho, eu to vendo que você tá frustrado porque não vamos comprar o brinquedo, né? Eu entendo. Mas não podemos comprar algo novo sempre”
“Filho, você tá cansado, né? Tá tudo bem, eu entendo”
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Ser bebê não é fácil
Agora, se o seu filho for bebê, cá entre nós:
Já pensou o quão difícil é isso?
Chegar em um mundo estranho, depois de estar nove meses no útero quentinho de mamain, não é fácil. Mamar e regular um intestino por onde nunca passou leite antes não é fácil. Dormir tranquilo sem contato humano, depois de morar, literalmente, dentro de um, não é fácil.
Lidar com o stress e cansaço do final do dia não é fácil. Sentir fome, sono, calor e frio (sem conseguir traduzir isso em palavras ou gestos) não é fácil.
Aprender a se movimentar, sentar e se arrastar pela casa não é fácil. Falar as primeiras palavras não é fácil. Dar os primeiros passos, então? Não é fácil…
Você abandona o projeto verão na segunda semana indo na academia e vai querer falar do bebê que tá ali, todo dia, botando a teste novas habilidades sem desistir?
Não, né?
Se mesmo com toda a maturidade acumulada ao longo dos anos, você ainda tem vários dias de bad, como espera que seu filho tenha capacidade lógica para enfrentar os MUITOS desafios a que é exposto calado?
Então, seja empático com quem ainda nem tem desenvolvida a região do cérebro responsável pela habilidade de se acalmar…
Se um choro te incomoda tanto, quem precisa trabalhar isso é você, não o seu filho.
Por falar nisso…
Por que o choro do seu filho te incomoda tanto?
Já parou para pensar nisso?
Claro que, apesar de extremamente necessário, o choro nunca vai ser algo que alguém tenha prazer em escutar…
É pra ser perturbador mesmo. Até porque é exatamente essa a sua função: avisar, de forma impossível de ser ignorada, que o seu filho precisa que você faça algo.
Portanto, se existe algum problema com o choro, ele é muito mais do adulto do que da criança. Concorda?
Quando você, definitivamente, não consegue tolerar o berreiro do seu filho, quando aquilo desperta os mais variados sentimentos em você (desde raiva e tristeza até pânico), vale dar uma olhada para o que pode estar por trás disso.
Se pergunte e relembre: como seus pais lidavam com o seu choro e com as suas crises emocionais quando você era pequeno?
Talvez você nem lembre, mas pode ser que eles falassem coisas como “sem choro”, “sem drama” ou “não precisa chorar”. Talvez eles deixassem você chorando horas a fio “para fortalecer os pulmões”, ou, simplesmente, na boa intenção de te tornar mais independente e “menos bundão”. Talvez eles precisassem dedicar mais atenção a um irmãozinho ou irmãzinha que chorava mais alto…
Seja como for, é fato comprovado pela psicologia:
Nossa tolerância ao choro é diretamente proporcional ao quanto o nosso próprio choro era tolerado e acolhido.
Não é regra, mas a forma como reagimos ao choro pode, sim, ser influenciada por experiências passadas. Por exemplo, se um dos pais cresceu em um ambiente em que o seu choro era ignorado ou desvalorizado, grandes chances de que ele tenha muito mais dificuldade para lidar agora com as crises do filho. Afinal, inconscientemente, elas funcionam como gatilho para trazer à tona feridas suas que ficaram lá atrás.
E vale lembrar: todos nós temos feridas, questões mal resolvidas e traumas em algum grau. O desafio é reconhecer e ressignificar essas emoções. Tudo para responder da forma mais saudável e empática possível às necessidades dos nossos filhos.
Não tem outro jeito: é preciso cuidar da nossa criança interior, para que possamos cuidar bem da criança que temos aqui fora.
Faz sentido?
Devo ignorar o choro do meu filho?
Não!
Pelamor, não faça isso!
Você ignoraria um alarme de incêndio só porque não gosta do barulho?
Claro que não!
Pois saiba que o choro também serve para te alertar de algo importantíssimo:
Seu filho precisa de você.
E tem mais:
Você (e as suas atitudes nesses primeiros anos de vida) tem participação fundamental no bom desenvolvimento cerebral do seu filho, sabia?
Caso precise de razões científicas para se convencer, aí vão:
- Pesquisadores da Universidade de Yale e da Escola de Medicina de Harvard (ambos centros de excelência em pesquisa nos EUA) descobriram que o estresse intenso vivenciado nos primeiros meses de vida pode causar alterações funcionais no cérebro parecidas com aquelas sentidas por adultos que sofrem de depressão;
- De acordo com outra pesquisa realizada nos EUA, se ignorarmos sistematicamente o choro do bebê por muito tempo, isso pode comprometer sua cognição no futuro;
- Crianças que são deixadas chorando sem acolhimento imediato têm níveis elevados de cortisol, o que pode comprometer o córtex pré-frontal e, consequentemente, a capacidade de regular emoções;
- Um artigo publicado na revista especializada Pediatrics afirma que o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) pode ser causado pela falta de reação dos pais diante do choro das crianças muito novas;
Ou seja:
Uma criação respeitosa, acolhedora e amorosa agora não é frescura…
É pré-requisito para que o seu filho tenha saúde física e emocional lá na frente!