Sim. você leu bem.
Venho do futuro para dizer que, sim, você vai comparar os seus filhos gêmeos.
Desculpa, mas não tem escapatória:
Querendo, ou não querendo. Evitando ou não evitando. Se esforçando ou não se esforçando.
Você vai.
Mas, calma lá, isso não te faz uma mãe/pai ruim.
Te faz uma mãe/pai real.
Eu explico:
A comparação é inevitável. Como você decide usá-la, é uma escolha.
Antes de mais nada, preciso te falar que é absolutamente normal e, inclusive, esperado que você compare.
Isso porque a comparação é um comportamento evolutivo. Há milhares de anos, quando a nossa sobrevivência dependia da proteção de uma tribo, ser diferente dos outros era um fator de risco.
Então, sim, você está instintivamente programado para fazer comparações – e com seus filhos, lamento informar, não seria diferente.
Além disso, como pais de gêmeos, existe outro agravante:
Muitas vezes, não conseguimos, nem na fala, deixar um de lado para falar do outro. Começamos a falar de um e, meio que no automático, já pensamos no outro.
Porque toda a vida foi assim. Eles nasceram juntos e chegaram em todas as fases juntos. Nada mais natural que venham juntos nos nossos pensamentos também, né?
Pois é.
Todos os astros conspiram a favor da comparação. Mas, mesmo sendo natural e esperado, você e eu sabemos que comparar filhos é receita pronta para garantir a eles anos de terapia…
Afinal de contas, já não vivemos no meio da selva e somos conscientes de que a única comparação benéfica é a de uma pessoa com ela mesma. Certo?
Certíssimo.
Qual é a melhor forma de comparar seus filhos gêmeos?
E agora você deve estar se perguntando:
Se a comparação é inevitável, mas precisa ser fortemente controlada, então como proceder?
Eu te digo:
Não tem outro jeito, a melhor maneira é criando o hábito de se auto-policiar.
Toda vez que você se pegar pensando que um filho fez algo melhor do que o outro (porque você vai pensar, é fato), ligue o pisque alerta. E reformule a frase trocando a referência.
Em outras palavras, ao invés comparar G1 com G2, compare G1 com G1.
Por exemplo:
“Porque você não come tudo que nem o seu irmão?”
“Porque você não comeu tudo que nem ontem?”
“Seja mais educado, como seu irmão”
“Responda com educação, como você aprendeu”
“Seu irmão é muito estudioso, por que você não se espelha nele?”
“Como você pode ser mais estudioso do que tem sido?”
E, é claro, você pode (e deve) elogiar o bom comportamento de cada filho. Mas sempre com o cuidado de não dizer que tal coisa ou atitude é melhor ou pior do que a do outro.
Até porque, se não existisse o irmão, também não existiria ponto de comparação, concorda?
Faz sentido?
Comparar é diferente de usar o irmão como incentivo
E agora um alerta importante:
Muitos pais comparam filhos na esperança de que um irmão se espelhe no outro. E o raciocínio não está de todo errado:
Claro que irmãos servem como inspiração.
Por aqui vemos isso acontecendo todo momento:
Quando uma das meninas levanta para tentar caminhar, a outra faz o mesmo. Quando uma fala alguma palavra, a outra repete. E assim por diante.
Então, sim, é fato que um irmão incentiva o outro.
O problema todo está na aplicação do conceito. Afinal, a criança aprende pela IMITAÇÃO, e não pela comparação.
Quando você usa o exemplo do irmão apenas para dizer que uma situação é melhor do que a outra, você não faz nada mais do que enfatizar o quanto a criança está fracassando naquela atividade/ atitude…
Agora, quando você fala de um comportamento que quer reforçar de maneira imparcial, apenas descrevendo o que vê, o que sente e o que precisa ser feito, já não existe “filho bom” e “filho mau”. O que existe é um caminho que está sendo positivo para o mano, e pode ser bom para os dois. Mas, se não for, tudo bem.
Em outras palavras, a criança deve entender que esse comportamento é benéfico para ela, mas não porque o irmão está fazendo.
Exemplos:
“Olha aí, o seu irmão comeu tudo e você não comeu nada”
“O mano gostou bastante da comida. Quem sabe você não prova pra ver se gosta também?”
“Por que você não fica quietinho que nem o seu irmão?”
“O mano tá tranquilo, porque ele sabe que a mamãe já volta”
“Olha que bonito o mano bem comportado. Que feio você chorando”
“Olha, o mano achou legal fazer isso. Será que você pode achar legal também? Vamos tentar?”
Percebe a diferença?
Dessa maneira, no lugar da pressão, você estará colocando uma possibilidade. Fica claro que a atitude do irmão, nesse caso específico, é um bom exemplo a ser seguido. Mas, se não for, está tudo complemente dentro do normal.
Faz sentido?
Me deixe saber o que você pensa sobre isso nos comentários!