Eles crescem na barriga juntos. Nascem juntos. Recebem os primeiros cuidados juntos.
Mamam juntos, dormem juntos, choram juntos.
Comemoram todos os aniversários juntos. Vão ao pediatra juntos. Conhecem novas pessoas juntos.
Comem pela primeira vez juntos. Vão à praia pela primeira vez juntos. Aprendem as primeiras lições de vida juntos. Aliás, quantas primeiras vezes eles fazem juntos?
Juntos, sempre juntos.
Ter filhos gêmeos é uma experiência que transborda o coração de amor. É lindo ver a conexão e cumplicidade de dois irmãos que dividem tudo desde o útero.
Mas tanta união e momentos compartilhados faz com que exclusividade seja palavra difícil na rotina do gêmeo.
Imagine a confusão mental para se reconhecer como alguém único e independente quando toda a vida você fez parte de uma dupla?
Quando toda a vida você foi considerado como uma entidade “lá vêm os gêmeos”…. E foi constantemente comparado, na tentativa das pessoas de diferenciar você do seu irmão de alguma forma?
Criar filhos gêmeos e estimular uma autonomia saudável entre eles não deixa de ser um desafio. A gente tende a querer vê-los sempre unidos e melhores amigos, mas a verdade é que a grande dificuldade tá na separação, e não na aproximação.
Então, fica a pergunta:
O que você tem feito para incentivar a individualidade dos seus filhos gêmeos?
Aqui, eu deixo 7 dicas de por onde começar:
#1. Não se refira a eles como “os gêmeos”
E a primeira não poderia ser outra!
Erro clássico, que pode ser, facilmente, resolvido.
Talvez você faça isso diariamente. E sabe o que é pior?
Muito provavelmente nem se dê conta do quanto isso é prejudicial para os seus filhos…
Então, me diga:
Você, por acaso, se refere a eles(as) como “os gêmeos” ou “as gêmeas”?
Pois, no momento que faz isso, é como se jogasse um cobertor por cima de todas as características tão únicas de personalidade de cada um.
Afinal, eles têm nomes. Eles têm vontades. Eles têm preferências. Eles têm histórias próprias. Eles são pessoas separadas, muito embora dividam muita coisa com o vizinho de útero.
Ninguém anuncia a chegada de ninguém dizendo “la vêm as irmãs Fonseca”, né?
Mas já reparou que todos insistem em empacotar os gêmeos como se eles fossem uma entidade?
“Lá vêm os gêmeos”
“Como estão os gêmeos?”
Pois é…
Por isso, o ideal é que você se acostume a chamar cada filho pelo nome e incentive o mesmo comportamento nas pessoas ao seu redor.
Esse é um cuidado simples, mas que pode fazer uma baita diferença na construção da individualidade deles.
#2. Passe um tempo de qualidade com cada criança
Como pessoas independentes que são, eles têm o direito de aprofundar a relação separadamente com o pai e a mãe, concorda?
Até porque seus filhos têm necessidades diferentes. E, no momento que você cuida de dois ao mesmo tempo, acaba deixando passar desaparecidos detalhes que só algumas horas de atenção exclusiva podem captar.
E tem mais:
Não é apenas sobre receber atenção exclusiva do pai ou da mãe. É sobre criar a oportunidade para o gêmeo deixar fluir sua individualidade separado do irmão.
Claro que, para viabilizar isso, você precisará contar com rede de apoio. Ou poderá revezar com o pai: cada dia um fica sozinho com uma criança, e depois alternam.
E já aviso:
No início vai ser BEM estranho. Vai parecer que tá faltando algo (na verdade, vai tá faltando mesmo).
Mas, acredite, depois você vai ver o quanto essas experiências podem ser valiosas para todos da família.
É um win-win game:
O irmão 1 curte o passeio sozinho com a mãe, a mãe curte poder se focar totalmente para um filho só, o irmão 2 curte as horas como filho único com o pai, ou curte brincar sozinho com a vó, a vó curte poder aproveitar o neto. E as duas crianças começam a se dar conta de que existe vida longe uma da outra.
Ou seja: todos saem ganhando.
Só cuidado para não ficar mal acostumado. Afinal, como diz uma amiga minha mãe de gêmeos, pra gente que tem dois ao mesmo tempo, cuidar só de um é “férias”.
#3. Permita e incentive que cada um tenha seus pertences desde cedo
É ótimo aprender a dividir? É.
Mas, no caso de gêmeos, que já dividem tanto, também é ótimo ter algo para chamar de seu.
Não é porque eles dividiram o útero que agora estão destinados a seguir dividindo tudo, néan?
Claro que não!
Gêmeos não só não precisam, como NÃO DEVEM, dividir todas as suas coisas com o irmão.
Afinal, é muito importante que, desde cedo, eles ganhem a noção de espaço e de territorialidade que só um “sai pra lá que isso aqui é meu” pode dar.
Precisamos nos lembrar que filhos nascidos de gravidez única não necessariamente gostam de dividir suas coisas. Então por que deveríamos esperar que gêmeos gostassem?
Por isso, garanta que cada um tenha gavetas próprias, brinquedos próprios, roupas próprias – que eles podem querer, ou não, compartilhar.
O mesmo vale para as datas comemorativas: não invente de querer economizar comprando um só presente para os dois e eles que lutem.
Nada disso. Você que lute.
Se tudo sempre pertencer a ambos, é difícil que eles possam pensar em si mesmos como pessoas diferentes.
#4. Estimule as preferências
Nem sempre as vontades vão poder ser atendidas, mas eles precisam perceber que seus interesses são respeitados, independentemente de coincidir com o do irmão.
Se quiserem brincar de coisas diferentes, fazer atividades, ir a lugares diferentes (e isso for viável na rotina da casa) permita e estimule esse comportamento.
#5. Matricule seus filhos em turmas diferentes na escola
Separados, eles vão ter a oportunidade de socializar mais, de se misturar, conhecer outras crianças e fazer amizades só suas.
Inclusive, sempre que possível, dê liberdade para que seus filhos possam escolher estar juntos em certos momentos e sozinhos em outros.
Não obrigue a criança a estar toda hora acompanhada do irmão, a menos que esse seja o desejo dela.
#6. Deixe que eles escolham suas roupas quando tiverem essa consciência
Tem coisa mais fofa do que dois bebês vestidos iguaizinhos?
Eu, particularmente, adoro.
Enquanto as roupas forem uma decisão sua, faça como você julgar melhor e mais prático. Mas, conforme forem crescendo, eles devem, sim, ter autonomia para escolher o que vão vestir.
E isso, aliás, vai acontecer naturalmente (quer você queira, quer não).
Leia mais sobre isso neste post:
[4 motivos porque eu visto minhas gêmeas iguais]
#7. Troque os rótulos por características temporárias
Tenho certeza de já fizeram essa pergunta a você um milhão de vezes, não é verdade?
Sei bem…
Ver duas crianças da mesma idade (e mais ainda quando são fisicamente iguais) intriga muita gente. É uma tendência natural das pessoas criarem, rapidamente, classificações na tentativa de encontrar uma referência para memorizar quem é quem. Daí basta um da dos dois sorrir e pronto:
Gêmeo 1 é o mais sério.
Gêmeo 2 é o mais risonho.
Ufa!
Parece até que dá até certo alívio no povo fazer uma “organização mental” colocando cada bebê dentro de uma “caixinha”.
Mas sabe aquela história de que rótulos limitam?
Pois é…
Quando você rotula, você coloca os seus filhos numa posição que eles já não conseguem mais sair. Um vai entender que é o mais sério e o outro vai entender que é o mais simpático. Daí, até para se diferenciarem, adivinhe só o que vai acontecer?
Bingo!
Eles vão incorporar o papel.
E é claro que um pode demonstrar ser mais extrovertido do que o irmão. Mas não cabe a você definir tão cedo esse (e outros) traços de personalidade.
Por isso, o ideal mesmo é que você fale em características temporárias:
“filho 1 tem estado mais quietinho ultimamente”
“filho 2 anda bem sorridente”
O mesmo vale para qualquer adjetivo:
Fulano não é o mais manhoso, ele ESTÁ manhoso.
Ciclano não é mais birrento, ele ESTÁ birrento.
Beltrano não é o mais ciumento, ele ESTÁ ciumento.
E quando perguntarem quem é o mais sério e quem é o mais “dado”, apenas diga:
Depende.
Depende do dia. Depende do humor. Depende do quanto cada um dormiu. Depende do quanto cada um comeu…
Crianças são crianças, não pedras.
Deixe os rótulos para as embalagens e permita que elas variem. Que sejam hoje uma coisa, amanhã outra.
Faz sentido?
O que você pensa sobre tudo isso?
Me deixe saber nos comentários