3 expectativas irreais dos adultos sobre as crianças

Por Andrea Lontra 


Expectativas:

Elas nos atrapalham na vida profissional, nos cegam na vida amorosa e, como não é de se surpreender, também são responsáveis por boa parte da nossa frustração no relacionamento com os filhos.

Já se deu conta de que a maior parte das coisas mal vistas pelo senso comum de uma criança fazer são, na verdade, comuns e esperadas?

Gritar. Correr. Chorar. Bater. Pedir colo. Pedir atenção. Não querer sair de perto da mãe. Não dormir a noite toda. 

Tudo isso é natural e saudável quando vindo de uma criança. Mesmo assim, muitos adultos ainda têm filhos com a expectativa irreal de que, com eles, sim, vai ser diferente. 

Daí os filhos chegam e a realidade apresenta que até aquela cena de choro estridente no meio do restaurante, que não ia acontecer nunca nunquinha, pode virar rotina.

Parece que o jogo virou, né?!

Inclusive, se eu tivesse que dar um único conselho, só unzinho, para uma mãe de recém-nascido, com toda certeza, seria esse: ⁣

Não tenha muitas certezas! ⁣

Maternidade é um tal de morder a língua o tempo inteiro. ⁣

A gente lê um monte de livro durante a gravidez, se prepara, faz mil planos. E, só quando o filho nasce, se dá conta de que, na prática, as coisas podem sair beeem diferentes do esperado. ⁣

Daí você fala que o bebê vai ser acostumado a dormir no berço dele desde o dia 1. E, já no primeiro mês, onde está o bebê? No meio da sua cama. ⁣

Você fala que vai conseguir viajar sozinha de boas, que é só deixar o baby com as avós e pronto. Mas sai de casa só duas horas e quase morre de saudade da cria…⁣

E as viagens com criança, então? Você pensa que seus filhos vão ser do mundo, porque você vai levá-los para cima e para baixo. Daí a realidade te apresenta que até uma ida ao restaurante da esquina é desafiadora. ⁣

Você, antes de ser mãe, não entende porque aquela sua amiga é tão chata com a história de rotina. Com o seu filho, vai ser diferente: “ele vai aprender a dormir em qualquer lugar e, se não deu para comer no horário, paciência”. Tempo depois, onde está você? Presa em casa com o bebê.⁣

Ah e sabe a televisão que não ia rolar nunca, nunquinha, jamais? Pois ela passa a ser forte aliada nos momentos desesperadores.⁣

Pois é…

A gente logo entende que a gente não entendia nada. ⁣

Eu já aprendi:⁣

Criar expectativas de como vai ser a vida com filhos é receita pronta para viver frustrada. ⁣

Se preparar é bacana. Ouvir conselhos pode ser útil. Mas a verdade é que nenhuma experiência vai, e nem deve, se comparar à sua. ⁣

Aliás, maternidade é tipo passagem de avião: totalmente pessoal e intransferível. ⁣

O que funciona para uma, pode não funcionar para outra. E tá tudo bem. ⁣

Para descobrir como será com você, ainda não inventaram outro jeito:⁣

Só vivendo. ⁣

Mas tem três coisas que o povo fantasia que eu já posso te adiantar de antemão que são irreais quando o assunto é criança.

São elas:

#1. Esperar que a criança durma a noite inteira nos primeiros anos de vida

Cada criança é uma criança. Se a filha da vizinha dorme a noite toda desde os 6 meses de idade, que ótimo para a vizinha. Mas, de forma alguma, quer dizer que você, mesmo aplicando as mesmas estratégias em casa, vai conseguir os mesmos resultados. 

E tem mais: que fique claro que a a tal filha da vizinha é uma exceção!

Afinal, nem adulto faz isso. Nós também acordamos diversas vezes durante a noite. A diferença é que sabemos virar para o lado e continuar dormindo. 

Isso só acontece porque nos sentimos seguros e entendemos o que está se passando à nossa volta. Já as crianças ainda não. Daí precisam da gente para ter segurança e conforto. 

E que fique claro:

Seres humanos são seres sociais, que amam se aglomerar. Todos os mamíferos dormem juntos, amontoados, com os filhotes no meio bem seguros e os pais na volta. Por que conosco seria diferente?

#2. Esperar que a criança sente sempre quietinha para comer 

Já parou pra pensar que nem você, na maioria das vezes, senta quietinho para comer?

Crianças comem brincando, assim como adultos normalmente comem conversando quando estão acompanhados (ou olhando o celular quando estão desacompanhados…) 

Esperar que o seu filho coma quietinho é como querer que o adulto coma parado e em silêncio: pouco provável. 

Além do mais, crianças muito pequenas têm dificuldade de se concentrar por períodos longos. Essa é uma capacidade que, normalmente, começa a se desenvolver por volta dos 3/4 anos. 

Portanto, acredite:

Até lá, permanecer sentado é uma habilidade bem desafiadora. 

#3. Esperar que a criança não faça “birra”

Entenda: seu filho ainda não tem capacidade cerebral para lidar com as próprias emoções. Portanto, vai ter birra, sim! 

É normal. É esperado. E faz parte do amadurecimento dele.

Quando o seu filho tem fome (e não é consciente disso), ele faz birra. Quando tá cansado (e não sabe porque tudo fica mais difícil), ele faz birra. Quando não tem a vontade atendida (e não entende o porquê), ele faz birra. 

Ou seja, não se trata de uma simples pirraça diante de uma frustração. E, sim, de um pedido de ajuda. 

É a maneira de expressar o que os pequenos ainda não têm a habilidade de recorrer à lógica e às palavras para fazer sozinhos.

Com o tempo, a criança vai aprendendo a se autorregular. Mas, para isso, ela precisa de um adulto regulado ajudando. 

Leia também:
[Birra: a melhor (e mais eficaz) maneira de lidar]

E a lista segue…

Conclusão:

Suas expectativas são o problema. Não o seu filho.

Entenda a realidade de uma criança e eduque sabendo o que esperar e o tempo que vai levar. 

Se você compreender, por exemplo, que o cérebro imaturo da criança vai ter explosões emocionais porque ainda não desenvolveu o controle inibitório, já enxergará os primeiros anos de vida do seu filho com outros olhos. 

Se entender que ele não dorme uma noite inteira sem pedir pela sua presença, porque, evolutivamente, isso faz sentido, também acordará na madrugada com outro humor.

E assim por diante.

Portanto, ao invés de querer adestrar, que tal buscar compreender?

Ao invés de querer acabar com a birra, que tal olhar para ela tentando encontrar a real necessidade do seu filho naquele momento? Ao invés de esperar que durmam independentes, que tal normatizar que bebês e crianças se sintam mais seguros conosco por perto?

Informação é poder, já diriam por aí.

E que tal se ela for também a virada de chave que faltava aí na sua casa?

Sobre a autora

Jornalista que gosta de escrever sobre a vida (e sobre tudo aquilo que dá vontade), psicóloga em formação e mãe das gêmeas Maya e Luna. 

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