Eu sempre quis filho menino. Matteo seria o nome dele.
Daí veio a notícia da gravidez. Depois de que eram dois. E eu pensei: um, certamente, é o Matteo.
Tanto que já conversava com “ele”. Imaginava o seu rostinho. E entrava nas lojas passando longe dos lookinhos rosa.
Não sei se porque sempre tive boas referências masculinas, ou se porque minha família é cheia de mulher (e queria ter experiências diferentes), o fato é que eu, no alto da minha ingenuidade, tinha certeza absoluta de que seria mãe de menino.
E, como um terceiro filho nunca esteve nos planos, não restavam dúvidas:
Tinha cromossomo Y nesse forninho!
Lembro bem do dia que descobri o sexo dos bebês. Eu e meu marido estávamos de férias em Búzios, quando ele viu pelo celular que o resultado do exame de sexagem tinha sido finalmente liberado.
A gente nunca cogitou fazer chá-revelação, porque sempre consideramos esse um momento muito íntimo para compartilhar com o resto do povo [AINDA BEM!]. Então, foi assim, com toda a casualidade de um dia de praia, que o Bruno virou para mim e disse:
“Deia, são duas meninas.”
Eu achei que ele tivesse brincando. Uma brincadeira de muito mau gosto, por sinal.
Pedi pra ver o exame. E tava ali bem conclusivo: sexo feminino.
Vai parecer horrível o que eu vou dizer, mas quer saber a verdade?
Eu chorei.
E não foi choro de emoção, não.
Foi de decepção. De frustração. De perda.
Tudo, menos alegria.
Um sentimento bizarro, que eu não sei nem explicar.
A verdade é que eu já tava tão emocionalmente envolvida com o Matteo, que receber a notícia de que ele não tava a caminho foi como perder um filho que eu nunca tive…
Afinal de contas, o nosso cérebro não sabe diferenciar o que é imaginação do que é realidade. Então, quando você imagina e idealiza muito uma coisa, é como se ela já tivesse, de fato, acontecido.
Por sorte, eu entendi isso desde o início. Mesmo escutando de pessoas próximas que era “um absurdo” não estar feliz, eu aceitei a minha dor. Sem me julgar ou me sentir culpada pelo que tava sentindo.
Foram semanas quietinha, sem falar em bebês, sem falar em nomes, sem pensar em enxoval. Apenas vivendo o meu luto.
Sim, luto.
Era preciso fechar um ciclo com o Matt (como eu já, carinhosamente, chamava), para que outro novo e cheio de amor pudesse começar.
E foi o que aconteceu.
Sou INFINITAMENTE realizada como mãe de menina(s).
Não poderia ser diferente. Era para ser elas.
Minhas filhas, meus amores, minha vida.
Hoje eu vejo como foi importante esse tempo elaborando e validando a minha frustração com o sexo do bebê para seguir adiante com ZERO ressentimentos. E ZERO vontade de ter menino.
O meu processo foi rápido. Não demorou mais do que poucas semanas. Mas porque eu tive todo o conhecimento necessário e, principalmente, apoio do meu marido.
Só que eu sei que essa não é a realidade de muitas mulheres que sofrem caladas.
Por isso, se você conhece alguém passando pela mesma situação, acolha essa mãe. O sentimento é real e é legítimo.
E por falar nisso…
Como lidar com a decepção com o sexo do bebê
Daí você chega confiante no exame de ultrassom, até que o médico te revela que o resultado é outro…
Você finge que está feliz. Diz que o que importa é “vir com saúde”, mas sai da sala em pedaços por dentro.
Como isso é possível?! É seu filho! Como você ousa não estar radiante?
A conversa interna é mais ou menos essa.
Pois saiba que essa mesma cena acontece nas melhores famílias. E, se aconteceu com você, faça o seguinte:
VIVA O SEU LUTO
O primeiro grande passo é aceitar que você esta triste porque queria um bebê de outro sexo, e que não tem nada errado nisso.
Permita-se sentir e processar as suas emoções.
É NORMAL sentir decepção quando as expectativas não são atendidas. Sei que não é um trabalho mental fácil, ainda mais quando todos à sua volta falam que você deveria estar feliz, mas esse momento e esses sentimentos fazem parte da sua jornada da maternidade.
FALE SOBRE O QUE ESTÁ SENTINDO
Você não precisa (e não deve) sofrer sozinha. Converse com o seu parceiro(a) sobre toda a situação. Compartilhe suas preocupações, medos, expectativas. E esteja disposta a ouvir o que seu ele(a) tem a dizer.
Como rota de fuga, muita gente acaba reprimindo tudo isso, o que pode piorar tudo lá na frente.
BUSQUE NOVAS PERSPECTIVAS
Parece bobo, mas, se você pesquisar as vantagens de se ter um filho de um sexo ou outro, poderá encontrar pontos de vista que não tinha pensado antes. Eu fiz isso e me ajudou bastante na época.
Busque, também, conversar com mães de meninos e de meninas e perceber que, independente do sexo do seu bebê, vai ser maravilhoso ter um filho.
QUEBRE ESTEREÓTIPOS
Já parou para pensar por que você queria tanto um sexo ou outro? Que expectativas estereotipadas estão por trás desse desejo?
Afinal, sua filha pode não gostar de sair para as compras com você. Seu filho pode não se interessar por esportes, ser extremamente criativo e amar artes…
Esqueça ideias preconcebidas de que só a menina vai ser sua parceira, ou que de “o filho homem sempre acaba sendo mais da mãe”.
Quando se trata de pessoas, a realidade é um grande “depende”.
DÊ TEMPO AO TEMPO
Parece conselho de música sertaneja cafona, mas é bem isso:
Certas coisas só o tempo resolve.
Respeite o seu tempo e, principalmente, o seu processo.
Logo você vai entender que gênero é totalmente insignificante. E vai amar o filho de um jeito tão avassalador que fará essa confusão toda parecer até piada.
Mas, antes, precisa encerrar um capítulo que não teve bebê, mas também teve amor. 🤍
Faz sentido?