5 situações em que você desrespeita a sua criança sem nem perceber

Por Andrea Lontra 


Elas são comuns, sutis e quase inofensivas. 

À primeira vista, parecem até fazer parte de alguma cagação de regra para criar filhos. Mas, se analisadas com atenção, essas 5 situações expõem a criança a um constrangimento autoritário e desrespeitoso. 

Então, veja se isso te parece familiar:

#1. Decretando o fim de alguma atividade que ela esteja fazendo, sem avisar previamente

Cena do cotidiano: 

Você está com pressa e precisa aprontar seu filho pequeno para sairem de casa. Ele está entretido com algum brinquedo, e não aparenta sinais de que vai cooperar com o rolê. 

Você, então, diz que tá na hora, pega-o nos braços e sai em direção ao trocador, sem nem ao menos dar um tempo para que ele “se despeça” do que estava fazendo…

Pode ser um desenho. Pode ser uma boneca. Pode ser um joguinho besta. Não interessa: 

As crianças investem tempo e esforço nas suas atividades, mesmo que sejam brincadeiras simples. Daí, quando você interrompe abruptamente o seu filho no meio do seu processo criativo, pode fazê-lo se sentir desrespeitado e frustrado, já que não teve a oportunidade de concluir aquilo. 

Sem falar que concentração e foco são preciosos. A distração que, para nós pode parecer de pouca importância, para criança tem um peso grande no desenvolvimento da sua capacidade de atenção.

COMO FAZER NESSA SITUAÇÃO?

É claro que o tempo todo somos obrigados a coordenar a rotina e, consequentemente, interromper uma atividade e outra. Mas, nessas horas, o ideal é sempre avisar previamente:

“Fulaninho, daqui a pouco a gente vai guardar o brinquedo para sair, ok?”

“Ciclaninho, você pode brincar só mais um pouquinho e logo temos que ir embora, combinado?”

#2. Ignorando a criança num momento de “birra”

Há quem diga que a melhor coisa para acabar com uma birra é não dar muita audiência para o momento…

Eu não iria por essa linha. 

Imagine procurar os seus pais para desabafar e encontrar indiferença no lugar de apoio? Será que você teria vontade de desabafar com eles de novo?

Pois é…

A única coisa que a criança aprende quando é ignorada é que ela não poderá contar conosco quando a situação ficar difícil…

Fingir que não está vendo pode incentivar, inclusive, o pequeno a aumentar a intensidade até que seja ouvido. 

Claro que sempre pode acontecer do seu filho querer ficar sozinho. Nesse caso, ele claramente precisa de um espaço e é válido. Se estiverem em casa (e se for seguro, obviamente), convém dar um tempo.

De todas as formas, vale sempre lembrar que você é a força reguladora do seu filho: ele precisa de você para traduzir em palavras os sentimentos que ele não consegue nomear sozinho. 

COMO FAZER NESSA SITUAÇÃO?

Portanto, é preciso deixar claro para a criança que você está vendo que ela está frustrada, mas que esse comportamento não vai ajudá-la a conseguir o que quer.

Acolha e valide os seus sentimentos. Colo e carinho nuca deixarão o seu filho mal acostumado: apenas mostrarão que, mesmo nos momentos difíceis, ele pode pode contar com você. 

Leia mais em: 
[Birra: a melhor (e mais eficaz) maneira de lidar]

#3. Obrigando a criança a beijar e abraçar alguém que ela não quer

Outra cena comum do cotidiano: 

Você recebe a visita daquela parente que não encontra há meses. Ela chega cheia de empolgação para ver e interagir com seu filho, mas ele não demonstra o mesmo entusiasmo…

Daí você, no ápice do constrangimento, insiste para o coitado beijar e abraçar a tia fulana que trouxe presente e muito carinho para dar…

O clássico “dá um beijo na titia”. 

Pois, nesse momento, além de ser desrespeitoso, em outras palavras, você está ensinando seu filho que não pode ter controle do próprio corpo. 

Veja bem:

A criança ainda não incorporou as convenções sociais. Para ela, intimidade é algo restrito às pessoas com quem convive intensamente: a mãe, o pai, os familiares mais próximos, um ou outro colega de escola. 

Portanto, por mais simpática e amorosa que seja, para o seu filho, a tal titia é apenas uma ilustre desconhecida. 

Daí, se você força uma criança a abraçar ou beijar alguém que ela não conhece bem, você a ensina que ela não tem voz na decisão de a quem demonstrar afeto. Ela passará a acreditar que carinho deve ser feito sempre que solicitado, não importa o que esteja sentindo de verdade. 

Percebe o problema?

E vamos além:

Segundo especialistas, isso pode levar crianças a serem abusadas sexualmente, assim como pode levar adolescentes a um comportamento sexual com o intuito de que “gostem deles”.

COMO FAZER NESSA SITUAÇÃO?

Melhor oferecer alternativas com os quais os pequenos se sintam mais confortáveis. Dentro dessa lógica, um oi à distância, seguido ou não de sorrisinho, já está de bom tamanho.

Bater a mão também é uma boa opção nesses casos. Implica menos contato com a outra pessoa e, por parte da criança, pode ser visto como um gesto mais divertido.

Seja como for, a premissa básica é: foda-se o que vai pensar a parente ou o resto do povo. No fim do dia, a pessoa que importa de verdade é o seu filho. 

#4. Comparando a criança com um irmãozinho/amiguinho

Se o filho da vizinha come muito brócolis e tem uma dieta rica em proteína, que ótimo para o filho da vizinha. 

Frases que eram para ser motivadoras, no estilo: “olha  ali, o fulaninho comeu tudo e você não”, mais atrapalham do que ajudam. 

Afinal, se nenhuma criança é igual a outra, por que insistimos em esperar mesmos comportamentos? 

“Mas é para incentivar a fazer o mesmo”, você me dirá. Nesse caso, saiba que você está esquecendo de um detalhe muito importante: 

Crianças aprendem pela IMITAÇÃO, e não pela comparação. 

Quando você usa o exemplo do irmão/amigo apenas para dizer que uma situação é melhor do que a outra, você não faz nada mais do que enfatizar o quanto a criança está fracassando naquela atividade/ atitude…  

COMO FAZER NESSA SITUAÇÃO?

Quer usar o exemplo do irmãozinho/ amiguinho como inspiração? 

Fale de um comportamento que quer reforçar de maneira imparcial, apenas descrevendo o que vê e o que precisa ser feito. Assim, já não existe “criança boa” e “criança má”. O que existe é um caminho que está sendo positivo para um, e pode ser bom para os dois. Mas, se não for, tudo bem. 

Em outras palavras, a criança deve entender que esse comportamento é benéfico para ela, mas não porque o outro está fazendo. 

Exemplos:

“Olha aí, o seu irmão comeu tudo e você não comeu nada”
“O mano gostou bastante da comida. Quem sabe você não prova pra ver se gosta também?”

“Por que você não fica quietinho que nem o seu amiguinho?”
“O amiguinho tá tranquilo, porque ele sabe que a mamãe dele já volta”

#5. Obrigando a criança a dividir o seu brinquedo 

Crianças até cinco/seis anos estão na fase egocêntrica, em que ainda estão muito centradas em si, descobrindo o “eu” e o “meu”. Portanto, a dificuldade de dividir, nesse período, é natural e esperada. 

Somado a isso, nessa idade, os pequenos entendem o que vêem e vivem ali no presente. Então, é difícil entenderem o conceito de emprestar a pegar de volta depois. 

COMO FAZER NESSA SITUAÇÃO?

Primeiro de tudo entender que tá tudo bem se seu filho não quiser emprestar determinado brinquedo.

Você emprestaria todas, todas, as suas coisas para pessoas aleatórias na pracinha? 

Emprestaria aquele seu iPhone babadeiro, recém comprado e brandnew?

Pois é… 

Permita que seu filho também tenha pertences só seu. E, para evitar situações de disputa, sugira que ele leve para a pracinha (ou para o local onde já sabe que vai brincar com outras crianças), só aquilo que está disposto a emprestar. 

Faz sentido?

Se identificou com alguma dessas situações?

O que você pensa sobre tudo isso? Quais são as suas experiências? Deixe seu comentário, vamos conversar!

Sobre a autora

Jornalista que gosta de escrever sobre a vida (e sobre tudo aquilo que dá vontade), psicóloga em formação e mãe das gêmeas Maya e Luna. 

>